24/07/2025 às 21:17 Reportagem

De executivo a explorador dos mares: a saga de Vilfredo Schurmann e o poder de um propósito

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Em um país onde o sucesso costuma ser medido por cargos, bônus e cifras, Vilfredo Schurmann trilhou um caminho radicalmente diferente. Deixou para trás o terno e a gravata, trocou salas de reuniões por convés, e fez do horizonte seu escritório. O que poderia soar como uma fuga romântica é, na verdade, a história real de uma liderança moldada não apenas nos mares revoltos do oceano, mas também nas decisões mais corajosas da alma.

Tudo começou com um gesto simples, mas simbólico: no balcão de um bar de aeroporto em Curitiba, após uma maratona frustrada de voos perdidos rumo a Brasília, Vilfredo tirou a gravata e pediu uma bebida. “É hora de ir realizar o meu sonho de vida”, disse a si mesmo. Não era uma frase solta ao vento. Há mais de uma década, já vinha se preparando para uma jornada de dois a três anos navegando com sua família pelos oceanos. Naquele momento, ao perder a chance de entregar pessoalmente um projeto ao então presidente Sarney e ao ministro Delfim Netto, compreendeu que sua hora havia chegado. A adrenalina da missão abortada se converteu em combustível para uma nova vida — a bordo. 

Uma família a bordo, um time de alta performance

Muito antes do conceito de “equipes autogeridas” se popularizar nos livros de negócios, a família Schurmann já vivia isso no mar. “Esse foi um sonho sonhado, desenvolvido, construído por todos nós”, explica. Cada um sabia sua função com exatidão. Um grau de erro na rota poderia resultar em dezenas de milhas náuticas de desvio. Disciplina, propósito coletivo, atenção plena: valores que Vilfredo enxerga como essenciais tanto para a vida em alto-mar quanto para qualquer projeto de impacto.

Não se tratava apenas de compartilhar tarefas — era uma filosofia. Enquanto um descansava, outro estava de vigília. Enquanto um cozinhava, o outro revisava o dessalinizador. “É gratificante ter uma equipe unida trabalhando para chegar a um porto seguro”, resume.

O dia em que a história emergiu das profundezas

Encontrar o submarino alemãoU-513, naufragado há mais de 60 anos e desaparecido no Atlântico Sul, poderia soar como roteiro de cinema. Mas foi a vida real de Vilfredo — e uma das maiores conquistas de sua trajetória.

Após uma década de buscas e incontáveis horas no mar, o achado tornou-se histórico: o U-513 é o submarino alemão da Segunda Guerra descoberto mais distante da Alemanha e o único localizado a partir de um veleiro.

“Me ensinou que, quando você tem um feeling, deve ir atrás com toda energia”, afirma. Houve ceticismo, claro — muitos diziam que era como achar agulha em palheiro. Mas persistência e espírito de equipe venceram. “As tempestades de terra são as piores”, diz, com a sabedoria de quem aprendeu que o maior desafio raramente é o mar.

Voz dos Oceanos: do grito silencioso à missão global

Foi em uma ilha deserta no Pacífico, West Fayu, que a próxima missão surgiu. O que parecia um paraíso tropical revelou-se um pesadelo ambiental: toneladas de plástico cobrindo a areia. “Fiz um vídeo e publiquei no Facebook. Viralizou”, conta. A indignação virou propósito. Nascia a Voz dos Oceanos, uma iniciativa que transcende fronteiras, misturando ciência, educação, inovação e sensibilização ambiental.

Com mais de 1,5 milhão de visualizações em poucas semanas, a mensagem ecoou longe. “Os jovens estão preocupados com o futuro. As empresas terão que entender que seus produtos não serão aceitos se não tiverem compromisso ambiental.” De uma ilha esquecida no mapa, a Voz dos Oceanos se tornou um chamado planetário. E o Brasil, com sua biodiversidade e litoral vasto, tem tudo para liderar essa nova onda de consciência.

Santa Catarina: o berço de um navegador e visionário

Vilfredo é “manezinho da ilha”, como se diz em Florianópolis. Morador de Santo Antônio de Lisboa, começou a velejar aos 25 anos com um barco de seis metros na Baía Norte. Santa Catarina foi e continua sendo o ponto de partida de todas as suas grandes jornadas. “É um estado abençoado por Deus”, diz. Mas sua relação com o mar vai além do emocional. Também é técnica empreendedora. Participou da elaboração de projetos estratégicos para gigantes como Ceval (hoje Bunge) e WEG, sempre conciliando visão de negócios com paixão pela navegação.

Liderança em mar aberto, lições para terra firme

Não à toa, seu livro Navegando com Sucesso compara expedições marítimas ao universo corporativo. “O planejamento e a preparação são os melhores companheiros”, afirma. Em um veleiro, como em uma empresa, é preciso confiar na equipe, tomar decisões sob pressão, lidar com cenários complexos e navegar por mares desconhecidos. “Dar a roda de leme a um tripulante é um ato de confiança.” A experiência na China, por exemplo, exigiu cooperação, flexibilidade e inteligência cultural. Uma verdadeira MBA flutuante.

Uma bússola chamada propósito

Ao final da conversa, Vilfredo deixa um conselho para aqueles que ainda buscam seu rumo: “Acredite de verdade naquilo que se pretende realizar. As tempestades vão aparecer, e elas estão aí para testar se você tem mesmo perseverança. Mas, depois que elas passam, você se torna mais forte.”

Hoje, aos olhos do mundo, ele é um explorador, ambientalista, líder e empreendedor. Mas, acima de tudo, Vilfredo Schurmann é um exemplo vivo de que coragem e propósito podem — literalmente — mover mundos.



24 Jul 2025

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