Presidente da FIESC revela como Santa Catarina se prepara para liderar a nova revolução industrial no Brasil, equilibrando inovação tecnológica, propósito social e sustentabilidade.
Em um cenário global no qual a quarta revolução industrial ainda está sendo absorvida por muitas empresas, um novo paradigma já está à porta: a Indústria 5.0. Ao contrário das transformações anteriores, que se concentravam principalmente em tecnologia e eficiência, esse modelo coloca o ser humano no centro da equação produtiva, sem abrir mão dos ganhos de automação e inteligência artificial.
Segundo Gilberto Seleme, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), o estado não só está preparado para essa transição, como também tem potencial para liderá-la nacionalmente. Em entrevista exclusiva, ele traça um panorama realista e otimista sobre os desafios e oportunidades dessa nova era industrial.
O diferencial catarinense
“Santa Catarina está pronta para essa nova era”, afirma Seleme com convicção. Ele destaca que o estado possui uma base industrial robusta e inovadora, apoiada por uma infraestrutura de conhecimento diferenciada: os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia, que atuam diretamente junto às empresas.
No entanto, Seleme não se ilude com a tecnologia pela tecnologia. “A Indústria 5.0 vai além: exige integração entre pessoas, propósito e sustentabilidade”, pondera. Essa visão holística reflete a mudança de mentalidade necessária para que a transformação seja genuína e duradoura.
O grande desafio, segundo o executivo, é democratizar essa transformação. “Precisamos fazer com que ela chegue a todas as cadeias produtivas, inclusive às pequenas e médias empresas”, ressalta. É aí que reside o verdadeiro teste de qualquer revolução industrial: sua capacidade de permear todo o tecido produtivo, não apenas as grandes corporações.
Além do greenwashing
Em tempos em que a sustentabilidade virou palavra de ordem corporativa, Seleme é direto ao abordar a questão do equilíbrio entre produtividade e impacto real. "A inovação gera resultados e melhora a vida das pessoas. A indústria catarinense já entendeu isso", afirma, citando avanços concretos em eficiência energética, redução do desperdício e segurança.
Para ele, o segredo está na transparência e no propósito. "A tecnologia é o meio, não o fim", sentencia. Essa distinção é fundamental em um mercado no qual práticas de "greenwashing" e inovação superficial se tornaram comuns.
"O equilíbrio vem quando a sustentabilidade faz parte do negócio", explica Seleme. "Automatizar processos deve significar mais qualidade para os produtos e mais bem-estar para as pessoas." Essa visão não considera a Indústria 5.0 um modelo utópico, mas uma evolução natural de negócios que já incorporaram a responsabilidade social e ambiental em seu DNA.
Os Gargalos Brasileiros
Ao tratar dos desafios estruturais do Brasil, Seleme não foge do assunto. Historicamente, o país enfrenta gargalos logísticos, educacionais e regulatórios, que freiam o avanço industrial. Para o executivo, a resposta começa pela base - a educação.
"O primeiro passo é investir em educação técnica e tecnológica. Precisamos formar e requalificar profissionais preparados para a era dos dados", defende ele. Mas as medidas não param por aí. Seleme também aponta a necessidade de simplificar o acesso a crédito e fomento para pesquisa, automação e sustentabilidade.
A infraestrutura também é importante. "O país precisa modernizar a logística, a energia e a conectividade, além de criar regras estáveis que deem segurança a quem investe", enumera. A mensagem é clara: o setor privado tem competência e disposição, mas precisa de um ambiente favorável para prosperar.
"Com o ambiente certo, a indústria faz o resto. Temos competência e espírito inovador para liderar essa transformação", diz ele, em um recado direto aos formuladores de políticas públicas.
O papel da FIESC
Como ponte entre empresas, governo e sociedade, a FIESC assume um papel estratégico nessa transição. Seleme detalha como a federação pretende liderar esse movimento: “Com proximidade, diálogo e entrega. Nosso papel é conectar quem produz, quem pesquisa e quem regula.”
A estrutura da FIESC foi desenhada exatamente para essa missão. Os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia estão na linha de frente, levando inteligência artificial e automação para dentro das fábricas. Já o SESI, o SENAI e o IEL cuidam do capital humano, com programas de saúde, segurança e qualificação profissional.
“A Federação é a interlocutora da indústria com o setor público e demais segmentos da sociedade”, resume Seleme, definindo claramente o papel de articulação institucional que a entidade desempenha.
Pessoas no centro
Se há uma mensagem central na visão de Gilberto Seleme sobre a Indústria 5.0, esta é, “tecnologia, mas também sobre gente”. O executivo é enfático ao afirmar que o capital humano é o verdadeiro diferencial das indústrias que avançam.
“Nosso compromisso é garantir que Santa Catarina continue crescendo de maneira responsável, sustentável e colocando as pessoas no centro de tudo”, conclui o presidente da FIESC.
Em um momento no qual a inteligência artificial e a automação geram tanto fascínio quanto apreensão em relação ao futuro do trabalho, Seleme apresenta uma visão equilibrada: a tecnologia deve servir às pessoas, e não o contrário. Essa filosofia pode diferenciar a Indústria 5.0 de suas predecessoras e fazer de Santa Catarina uma referência nacional e internacional nessa nova era industrial.
A aposta está lançada. E, pelo menos no Sul do Brasil, há quem já esteja trabalhando para que essa revolução seja, de fato, sobre as pessoas.