Em um mundo industrial onde a única certeza é a mudança, poucos executivos conseguem equilibrar tradição e inovação como Guilherme Bertani. À frente da Docol, ele não apenas comanda uma operação — ele está redefinindo o que significa ser um líder na era da transformação digital, sustentabilidade e escassez de talentos.
“Hoje, competitividade é sobre pessoas, entender o contexto e executar com ritmo”, diz Bertani, com a clareza de quem sabe que a verdadeira vantagem competitiva não está nas máquinas, mas nas pessoas que as operam. E essa filosofia é o que mantém a Docol relevante em um mercado cada vez mais desafiador.
A Fórmula da Liderança Industrial Moderna
Para Bertani, ser líder vai muito além de cumprir metas trimestrais. É sobre criar um ecossistema onde tecnologia, inovação e cultura caminham juntos. “É antecipar tendências, reagir rapidamente quando necessário e, acima de tudo, colocar as pessoas e os clientes no centro”, explica.
O que realmente distingue sua abordagem é a coragem de fazer o que é certo, não o que é mais fácil. Na Docol, isso significa adiar lançamentos ou até mesmo refazer lotes inteiros quando a qualidade não está à altura. É uma decisão que pode custar caro no curto prazo, mas é estratégica a longo prazo. “Sete décadas de experiência nos proporcionaram a base para evoluir metais, louças e soluções em inox sem abrir mão do que nos trouxe até aqui: qualidade e confiabilidade”, destaca o executivo, mostrando como tradição e inovação podem — e devem — coexistir.
Inovação com Propósito
Em tempos de palavras da moda vazias, a Docol decidiu seguir um caminho diferente: inovar com um propósito real. Materiais mais eficientes, processos que minimizam desperdícios, uso consciente da água e um ciclo de vida dos produtos cuidadosamente planejado. Cada decisão é avaliada não apenas pelo impacto imediato, mas também pelo legado que deixa.
A tecnologia e a sustentabilidade só fazem sentido se realmente melhorarem a experiência de quem as utiliza, resume Bertani, mostrando que ESG vai muito além de um simples relatório anual; é uma filosofia que guia a operação. A busca constante pela qualidade leva a empresa a analisar e implementar melhorias contínuas — desde prolongar a vida útil dos produtos até eliminar desperdícios na produção. É o kaizen a trazer resultados palpáveis.
O Líder do Futuro
Quando questionado sobre as habilidades essenciais para a liderança industrial nos próximos anos, Bertani é claro: adaptabilidade e aprendizado contínuo. “O ritmo é acelerado, então o líder precisa combinar a leitura de dados com uma sensibilidade humana”.
Sua abordagem é prática e se baseia em três pilares:
Formar equipes excepcionais: autonomia, protagonismo e segurança psicológica não são apenas benefícios, mas sim requisitos fundamentais para a operação.
Decidir com coragem: priorizar de forma implacável, saber dizer não quando necessário e manter a execução em ritmo constante.
Inovar com disciplina: testar, medir, aprender e escalar — nessa ordem.
“No final das contas, é sobre entregar resultados hoje e preparar a empresa para o amanhã”, conclui.
A Guerra Invisível por Talentos
Se há um desafio que tira o sono dos executivos industriais brasileiros, é a falta de mão de obra qualificada. Mas enquanto muitos apenas reclamam, Bertani toma atitudes. A estratégia da Docol é bem definida: pessoas talentosas buscam propósito, aprendizado e reconhecimento.
Por isso, a empresa investe fortemente em programas de capacitação, mentoria, rotação entre áreas e, principalmente, em dar um sentido claro ao trabalho. “Valorizamos o mérito, oferecemos feedbacks frequentes e criamos oportunidades para evolução”, explica Bertani, que também mantém parcerias estratégicas com escolas técnicas e universidades para encurtar a distância entre teoria e prática.
O que faz a diferença? Programas com instituições de ensino que atualizam conteúdos em tempo real, módulos in company e estágios focados em resolver problemas reais — não apenas em realizar tarefas. “Quanto mais cedo um estudante se envolve com o ambiente industrial, mais rapidamente ele consegue ver sentido no que aprende. É uma situação vantajosa para todos: o aluno, a escola e a indústria”, reflete.
Seduzindo a Geração Z para o Chão de Fábrica
Atrair as novas gerações para a indústria vai além de oferecer salários competitivos. É preciso mudar a forma como esse setor, muitas vezes considerado ultrapassado, é percebido. “É fundamental mostrar a indústria como ela realmente é hoje: cheia de tecnologia, automação, dados, ESG e um impacto social significativo”, argumenta Bertani.
A fórmula para isso inclui aprendizado contínuo, caminhos claros para o crescimento, ambientes colaborativos e uma diversidade genuína — não apenas aquela que aparece nos relatórios de sustentabilidade. “As novas gerações buscam propósito e impacto. A indústria tem tudo isso — só precisa se comunicar melhor, abrir as portas e convidar todos a construir juntos”, provoca o executivo.
O Legado em Construção
Guilherme Bertani é um exemplo de uma nova geração de líderes que compreendeu que a transformação industrial não se resume a escolher entre tradição e inovação, entre pessoas e tecnologia, ou entre lucro e propósito. Trata-se de integrar todos esses elementos em um modelo operacional que seja coerente, mensurável e, acima de tudo, humano.
Na Docol, a busca pela excelência no presente e a preparação para o futuro não são apenas slogans — são obsessões diárias. Essa combinação de pragmatismo operacional com uma visão estratégica é o que continua a escrever a história de uma empresa que já atravessou sete décadas sem perder sua relevância.
Como Bertani mesmo define: “O compromisso é fazer o certo, não o cômodo”. E essa, talvez, seja a única regra que nunca perde a validade